sábado, 6 de agosto de 2011

Ser humano - Ser lobo

Havia traído a mim mesmo.Rasguei inteiramente as roupas.Estava nu.O homem é lobo do homem,triste do homem que confia noutro homem;estavam falando de mim ali.Acreditei durante anos na verdade,não no fato de não mentir pros outros,mas de ser fiel a si custe o que custar;falhei.Hoje falhei,não sei bem por que razão...Continuo com a intenção de errar,parece um caminho sem volta;uma chapeuzinho vermelho ou uma Alice que erraram o caminho,descobriram-se erradas e insistiram.Era e é prazeroso aquilo,um prazer enorme,infindável.Fechei os olhos e vi os dela ali,dançando diante de mim,uma dança suave,volátil.como ela mesma,prestes a se misturar ao ar a qualquer momento.
-Dança comigo?Era a voz dela fazendo eco dentro de mim,um eco eterno e amoroso.
-Meus pés de pato não sabem dançar.
-Tudo bem.
Fiquei ali contemplando-a;sempre tão exposta e vulnerável.
-Foge não.
-Mas quem disse que estou fugindo?
-Você sabe dançar,eu sei.
-Preciso ir.Até logo.Fica pra outra oportunidade.
Não gosto de falar de amor. E não estou pensando,muito menos escrevendo sobre ele.
Porém...A dança,o jeito que ela dançava,era um convite.
Diante daquele pensamento lembro de ter estacado no meio do caminho,como se houvesse uma pedra no meio do caminho,no meio do caminho existe uma pedra,e não havia.O que vi fui eu mesmo indo até ela,conduzindo-a da forma mais hábil e mais desconcertante até agora,pra mim ao menos.
Não percebi quando acabou.Estávamos exaustos,deitados no palco,sem plateia.Levantei de forma mecânica.Pra ela disse apenas que preferia pintura;porém e inegavelmente gostei de dançar.Isso não confessei nem a mim mesmo.

2 comentários:

  1. Cada vez mais surpreendente. Parabéns. Este conto me trouxe à lembrança um pensamento que guardo a muitos anos: "... a dança do amor e da dor..." pena que a memória já não ajuda a lembrá-lo por completo, porém mais interessante que recordá-lo é reviver antigas histórias. Ler seus contos dá a sensação de que estamos entrando num lago calmo, tranquilo e o que estava quieto lá no fundo vem à tona num turbilhão de areia e saudades. Abrs

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  2. Adorei,fiquei fascinada com os contos, eles fazem a gente refletir e pensar no nosso cotidiano.Parabéns Cecília você tem muito talento.Beijos :)
    Lívia Dantas

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