terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Conto de Natal


Não havia sinal do Natal ali; procurei os sapatos debaixo da árvore, não havia árvore. Senti fome e intentei cear com eles, a mesa estava deserta. Senti frio, não havia cobertas. Contrariando a tudo isto começava a sentir em meu peito raios de felicidade, uma esperança estranha tomava conta de mim... A hora estava cada vez mais próxima.

Com muito cuidado me debrucei na janela roída pelos cupins, lá no céu bem distante de mim, de nós, e de toda aquela miséria brilhava uma estrela, a maior de todas elas brilhava no céu, ela ofuscou minha vista, meus olhos aos poucos se encheram de lágrimas... Por entre o feixe luminoso vi quando ele se aproximava.

O trenó e as renas eram os mesmos das histórias infantis... Não havia saco de Papai Noel, nem presentes, ele trazia consigo três criaturinhas maravilhosas.

Desceram do trenó, a viagem estava no fim pra que pudessem dar inicio a tantas outras...

Pra meu espanto entraram na humilde habitação na qual eu estava.

-Somos tão feios pra que te assustemos assim?

Mal podia olhá-los tal a luz e a pureza que emanava de seus corpos.

Estavam diante de mim: José, Maria, e o menino Jesus embalado em seus braços.

O Noel sorriu docemente, contemplei aqueles olhos lindos e negros com satisfação, era o único deles que eu conseguia enxergar perfeitamente, sem ofuscamento da vista. Ele estendeu as mãos pra mim e pediu pra que eu as tocasse, fiz o que ele pediu... Eram cheias de amor e de paz. Uma felicidade sem sombras tomou conta do ambiente. Juntos tomamos a ceia aquela noite. Vi as luzes de natal entrarem naquela casa humilde, mais potentes e maviosas do que todas as luzes do mundo eram as luzes dos olhos daquelas pessoas, elas refletiam o amor.

Após a ceia, em silêncio, levantaram-se, pareciam prontos pra partir.

Jesus, ainda rebento, no colo materno olhou pra mim e disse:

-Estamos aqui hoje, filho, por que tu ousaste penetrar este casebre...Procurar essa família.

-Não havia ninguém...

-Foram tolhidos pelo frio e pela fome. Mas o PAI os restituiu em sua graça, eu te digo em verdade, muito em breve estarei com eles no reino dos céus. Quanto a ti...A partir de hoje farei morada em teu lar.

Chamou o Papai Noel e pediu pra que fossem embora, em algum lugar, havia muita chaga a ser extirpada, pessoas clamando por compaixão, gritos repletos de fomes e sedes... ELE estaria lá pra saciá-los e dessedentá-los.

Manhã seguinte acordei entre as ruínas daquela velha casa... Não havia sinal da estada daqueles indivíduos naquele casebre... Contudo dentro de mim, havia uma vela queimando, repleta de paz...Era a certeza que eu precisava, eles estiveram comigo e eu com eles.

3 comentários:

  1. Parabéns Cecília, você escreve belissimamente bem ^^

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  2. Achei o conto de Natal profundo, e fora dos padrões,dos contos convencionais - no geral, prismam em alimentar a fantasia de que no Natal todo mundo é filho de Papai Noel - sabemos que o Natal se descaracterizou-se em essência. Substituíram Jesus pelo Papai Noel, e o espírito natalino pelo comércio. Presenciei pessoas assitindo às crianças necessitadas, tomadas pelo espírito natalino - mas, sabemos que este espírito deverá estar presente em todo nós, em todos os dias do ano - isso, sim, é o verdadeiro natal. É o que Jesus quer, deixou e espera. O velho Noel- esqueça.

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  3. Que o velho Noel dos nossos sonhos nos relembre sempre do Menino que deve morar em cada lar.
    Bjs

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