-Interessante essa história.
-Foi bem mais que isso.
-Conta mais uma vez pra que eu possa guardar
melhor.
-Num domingo bem cedinho atravessei a rua, comprei
jornais e pão. Na volta ela estava lá.
-Como aconteceu isso? Sempre me faço essa
pergunta quando você conta essa história.
-Eu não sei, ela simplesmente estava lá como
se sempre houvesse existido: a flor do Drummond, "A Flor e a Náusea",
Só não havia a náusea aqui. Pus-me a contemplá-la: era vermelha e pequena, mas
ocupava toda minha atenção; sorri satisfeito pra mim mesmo e depois para ela...
Voltaria mais tarde depois do almoço - ela ainda estaria lá ou seria esmagada
pelos carros?
Milagrosamente ela estava e continuou ali no
asfalto, sem que ninguém ousasse arrancá-la, crescia debaixo de minhas vistas e
cada vez mais com os meus cuidados.
-Você voltava lá todos os dias?
-Claro! Por conta de que deixaria de voltar? Não
só voltei nos dias e meses seguintes como passei a regar e conversar com ela, fui
seu primeiro amigo, mas não o único; pessoas de vários cantos da cidade vinham
vê-la. Naquele tempo eu devia contar uns 20 ou 22 anos, guardava comigo grandes
sonhos e aspirações.
Os anos passaram me fiz homem e chefe de família.
Minha mulher ciumenta de meu zelo pela flor quis mudar-se, relutei. Contudo
cedi quando ela ameaçou cortar a rosa, então Patrimônio Nacional.
Com minha ida pra outra cidade murchei por
completo e ela também... Perdemos o viço, veio a juventude - a madureza.
Alguns anos se passaram. Fiquei viúvo, com o
fim do luto vendi a casa e retornei para a cidade.
Pus a melhor "roupa", meu coração
saudoso; levei o regador, agora cuidaria dela como antes, conversaríamos tantas
coisas, há anos não conversávamos...
Porém ao ver-me a minha flor e o meu amor
recuperaram o viço, a cor...
Ali diante de mim ela tirou os pés do solo, veio
ao meu encontro e me abraçou.
Estamos casados até hoje.
Gostaria muito de encontrar uma flor num canto qualquer da cidade de chumbo, sombria. Poder regá-la, e depois casar com ela. Pode ser até uma margarida, ou Acássia.
ResponderExcluirMuito bonito! Assim como a flor o amor pode esperar seu tempo.
ResponderExcluirLinnndooo!
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