Atirou o
chapéu na mesa, sentou numa cadeira, arrotou aos quatro ventos pra quem
quisesse ouvir e sentir aquele odor...
O garçom
aproximou-se dele:
-Venha
comigo, por favor, sua conduta não condiz com o estabelecimento.
-Não irei a
lugar algum. Estou esperando alguém.
-Ou o senhor
vem comigo ou chamo o gerente.
Nesse
instante uma moça aproxima-se da mesa, cumprimenta a ambos, puxa a cadeira mais
próxima e senta. É muito bela e discreta. Era disso em maior parte composta a
sua beleza, da sua discrição.
O garçom
olhou pro homem ainda sentado desajeitadamente uma última vez e saiu.
-Aqui está. Disse
ela entregando uma pasta.
-Muito bem. Tirou
uma caneta do bolso e rubricou nos locais indicados. Estava consumado.
Ela sorriu
satisfeita. Um sorriso terno e doce, talvez maternal.
Levantou-se
e saiu.
O homem
ainda ficou ali por uma hora ou duas bebericando uma cerveja, a esta altura bem
quente, deixou o dinheiro embaixo do copo e saiu. Ali não era ambiente pra uma
criatura como ele, com a “esmerada” educação que tivera dos pais... Frequentar
restaurantes finos tais aquele? Era a primeira vez. Era a primeira vez que
sentia o verniz da sociedade, não se sentiu intimidado, mas estava contrafeito
com o tratamento recebido, era contra seus princípios de educação frequentar
lugares como o que acabara de deixar,foi por insistência de Isabel que se encontraram ali. Ficara órfão de mãe aos oito anos, o pai
abandonou-a grávida, não o viu sequer uma vez em 30 anos de
existência.
Na rua
sentia o efeito das rubricas sobre o mundo. Contrato assinado. Rubricado em
cada rodapé de páginas. Parecia feliz. Dentro de seus olhos brincavam as
letrinhas do seu nome.
No outro
ponto da cidade Isabel entrou no edifício, sempre cordial cumprimentou os
funcionários da empresa. Ouvia-se a largas vozes por ali e por toda a parte o
quanto ela era correta e querida entre os companheiros de trabalho, do maior ao
menor, eram todos respeitados.
-Que mulher
admirável, Jaime. Disse Pedro.
-Eu com uma
mulher dessas estaria feito. Quem dera a jararaca lá de casa fosse tal qual
ela.
Fechou a
porta. Sentou. Folheou cada página com cuidado. Antunes havia cumprido sua
parte no acordo.
-Antunes! Meu
velho e bom Antunes. Era saudado na rua por amigos, conhecidos, aclamado com unanimidade.
-Olhe meu
caro a melhor coisa que você fez foi vender a casa.
Enfim o
negócio estava liquidado.
Com o
dinheiro “ajudaria” inclusive a Isabel, ela que estava “ajudando-o” a ser um
homem de classe. Aquele dinheiro pagaria as prestações que se acumulavam do
hospital, os remédios e todo o resto. Antunes estava doente. Talvez morresse em
breve, mas não estaria sozinho nem desamparado...Aquela mulher também seria
paga, assim como o hospital e os remédios, pra acompanhá-lo em sua solidão.
Isabel era
uma flor muito fina, mas não rara, advogada competente, escritório próprio e
bem frequentado. Ajudaria de forma muitíssimo nobre aquele homem. Receberia
centavo por centavo, cada minuto de companhia ou instrução de educação.
Os clientes
eram cada vez mais frequentes... Em pouco tempo era procurada por outros
Antunes, sua fama era imensa, a doce e amável mulher, educada, porcelana que
ornava as salas, canto que enchia as manhãs, aquela que provocava suspiros e
invejas...Ninguém suspeitava...Uma grande mulher ou uma grande ratazana?
Parabens, belo conto ...
ResponderExcluirBy : Maiara ( Anjinha ;D)
Hum... Fiquei curioso agora. Tá com cara de Mercenária. rs
ResponderExcluirDiogoa