quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pavilhão 7


Ênio estava trancado em uma cela 2x2, respirava com dificuldade,sentia um calor infernal.Não recebia visita de parentes ou induto de natal.Com ele poderíamos contar 5 presos na cela.Dormiam por turnos,enquanto os outros ficavam de pé vigiando ou morrendo,fosse de sede ou de solidão.Ali era o lugar mais temível pra se viver.Todos bandidos,cada qual havia cometido algo pior que o outro.
Naquela noite Ênio não dormiu,pensava nas filhas e na mulher sozinhas em casa.Teriam o que comer uma hora daquela?Que horas seria lá fora?Lá dentro não havia horas,passavam-se dias,meses,anos;não sabia ao certo quanto tempo estava ali,o advogado não aparecia há muito tempo...
-Condenado por tráfico de drogas.Foi o que ouviu no dia da sentença do juiz.
....
-Quantos anos você ainda fica aqui dentro?
-Não sei...Seus olhos não saberiam mesmo responder quantos anos ainda teria pela frente;os anos de condenação ele sabia,mas quanto havia cumprido de pena ou quanta restava cumprir ele não sabia.
-Você devia marcar na folhinha.
Ênio não respondeu,ficou ali com seus pensamentos.Seus dias estavam contados,poderia ser morto a qualquer momento por algum rival ou mesmo por alguém na cadeia.Havia muita gente disputando seu ponto de tráfico.Fugiria em breve,a solução seria fugir.
A rebelião teve inicio num dos dias de visita.Com "inocentes" lá dentro o apelo seria maior.Mais uma vez suas filhas e sua mulher não estariam ali,foi a única vez que isto o fez sorrir.
Em casa Lurdes e as meninas não tinham grana nem pras necessidades básicas.As crianças eram tão pequenas ainda...Não saiam pra pedir comida ou dinheiro,viviam ali dentro daquela pequenina prisão na qual havia se convertido a casa.Sentadas na cadeira,tinham as cabecinhas repousadas sobre a mesa,numa tristeza cruel,amarga.Não havia como sair dali,o medo era maior.Ênio e sua família estavam jurados de morte pela facção rival.
-Lurdes!
Era Ênio entrando em casa.Havia conseguido fugir.
-O que faz aqui?Disse a mulher assustada diante da cara de poucos amigos do marido.
Ênio sacou o revólver e atirou.Primeiro na mulher,depois nas filhas.Quando a polícia chegou encontrou apenas a carnificina.
Fugiu sozinho pois já não havia consciência ou fardo a ser carregado.

Um comentário:

  1. Excelente texto, Cecília. Com um toque misterioso no fundo do surpreendente e inebriante final. Parabéns.
    Aaaaah...já estou seguindo e divulgando seu Blog, tá?
    Essa causa é nobre. Abraços.

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