sábado, 26 de janeiro de 2013

Um Sol Nasce.Outro Morre.


-Um minuto, por favor.Era meu amigo Vinícius ao telefone e eu queria me certificar que a nossa conversa não seria ouvida por ninguém.Foi por isso que dispensei todos os presentes, que naquele instante se compunham de um séquito de primos e um gato.Sim, até do gato queria estar livre, pra falar das coisas mais banais  ou das mais importantes sem ser escutado.
-Pois, é meu caro.É exatamente o que eu te disse: minha mulher vai ter um filho, está grávida.Não é ótima a notícia?
-É, sim.Disse eu.
-Que é isso rapaz, você não tá alegre?
Quem nos ouvisse a conversa talvez não pudesse crer que éramos ambos apenas amigos, falando a verdade éramos mais que isso, éramos irmãos.
-Pra que fique decretado o quanto estou feliz, peço a você e a sua esposa que façam da criança que virá meu afilhado, irei batizá-lo.
-Pois considere acertado desde já.Esperamos você em nossa casa amanhã pra almoçar, vamos comemorar com mesa farta a vinda do nosso primeiro filho.
Sozinho adentrei aquele lar, no qual estavam reunidos amigos de minha verdadeira estima.Enquanto conversávamos animadamente esperamos por Laura.Era a aparição mais aguardada daquela manhã.
-Ela está no banho.Daqui a pouco estará entre nós.
-Garanto que estamos todos ansiosos pra vê-la e abraçá-la por essa tão grande boa nova.
Os presentes assentiram com a cabeça concordando.Da cozinha vinham cheiros convidativos ao paladar. Eu estava faminto.
Quando dei por mim lá estava Laura diante de todos nós, cercada de elogios, paparicada por todos, como não poderia deixar de ser.
-Mana, dê um abraço.Disse eu estendendo-lhe os braços.
Ela retribuiu amorosamente,naquele instante senti o quanto ela estava feliz com a nossa presença pra que compartilhássemos da sua felicidade.
Enquanto almoçávamos eu não me pude furtar de observá-la, não perdia um só movimento; meus olhos pulavam dela pra Vinícius, pensava no quanto eram felizes;  e como eu seria também feliz se pudesse ter filhos, se tivesse muito tempo de vida.

Queria batizar aquela criança, pegá-la no colo,vê-la crescer e se tornar um grande homem ou uma grande mulher.Queria poder perpetuar a amizade que eu tinha por Vinícius e sua esposa através daquela nova vida.Perdido em tantos pensamentos passei o restante da tarde e da noite, inebriado por aquela atmosfera de paz e amor.Já se fazia tarde quando eu fiz menção de ir embora.
-Fique conosco, irmão.Disse ele.
-Já é tarde, é melhor eu ir.
-Que nada cara, tenho certeza que a Laura não irá se importar.
-E não me importo mesmo, você sabe que já é de casa, a nossa amizade nos faz da mesma família.
-Tudo bem, mas a senhora vá tomar um banho e deitar-se.Vinícius e eu cuidaremos de arrumar a cozinha e o que mais tiver fora de ordem por aqui, certo?
-Combinadíssimo.Gargalhou ela.Isso eu não posso recusar.
Terminada a louça fomos conversar no terraço.Era mais fresco e menos ruidoso também, já que os quartos ficavam no fundo.
-Meu camarada, os anos estão passando.Disse eu enquanto batia fortemente em seu ombro.Daqui a pouco você será vovô, já pensou?
-Calma, calma a criança ainda nem nasceu, e você já quer ela fora de casa, crescida e independente e ainda me dando um neto?
Rimos os dois durante um bom tempo diante das conjecturas de um futuro feliz e cada vez mais risonho.
-Paulo, há muito tempo não te vejo tão feliz.
Tive que concordar com ele.Eu estava mesmo muito feliz; rodeado de afetos sinceros, de uma família que me acolhia em sua presença tal qual se fosse verdadeiramente a minha.
Olhei pra ele ainda pela última vez.Sua imagem se diluindo diante dos meus olhos, misturando-se com a de sua esposa, da criança que ainda não nascera, como seria ela?Eu não havia me casado, não possuía filhos, mas era muito querido por minha também querida parentela; contudo havia escolhido aquele homem, aquele irmão pra compartilhar que eu estava morrendo.
Tentei levantar-me pra olhar pro céu e orar, agradecer a Deus por aquela vida maravilhosa que eu havia tido, mas as forças fugiam-me de todo quando fui amparado por aquele velho companheiro de estrada.
-Estou com você.Disse amparando-me.
Ergui os olhos quase cerrados para o céu e mergulhei na imensidão da noite estrelada.
Paulo se foi e diferente de tantos que morrem entre agonias e blasfêmias ele estava feliz.
Todos os dias a vida nasce, morre, renova-se diante de nossos olhos que estão muitas vezes empoeirados com a sujeira do mundo.

4 comentários:

  1. Paulo se foi, mas com certeza permanece vivo para os que o amavam, assim como todos aqueles que amamos não vão embora, permanecem em nossos corações.

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  2. Cecilia,vim retribuir sua visita e me entreti com essa bela e comovente história!De fato,nem sabemos o quanto passa da vida sem que percebamos!Bjs,

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  3. Gostei de saber que a minha pessoa tem certa importância para você.


    LG

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