Juliana estava de joelhos aos pés do altar. Orava. De sua
parte também compenetrado, porém em questões mundanas o padre a olhava. Aquela
mulher era uma bela ovelha: tão entregue, absorta, completamente apaixonada
pelas questões do céu. Os cabelos caíam-lhe abundantemente pelos ombros
cobertos, ela era todo recato: físico e espiritual. Seus lábios carnudos, cheios
de amor... Eram um convite.
-Está no horário de sua confissão. Vamos filha?
Não muito longe dali ouvia-se:
-Aleluia senhor. Deus seja louvado e para sempre glorificado.
Em nome do senhor.
-Amém. Disseram outras ovelhas. Estas evangélicas.
Após o culto e coleta das ofertas da noite. O pastor
fechou-se em seus aposentos particulares contando as somas. Separando apenas
uma ninharia para as obras da igreja. Os pobres... Pra que os pobres mesmo? Ah,
par dar o óbolo da viúva, que dentro de sua imensa pobreza ainda assim reuniu
condições para ajudar o seu próximo. Oh, pobre viúva! Pobres homens e mulheres
que ao invés de encontrarem um pastor de almas encontraram um grande banqueiro.
O céu crispou-se de nuvens negras, Lúcifer caiu dos céus
arrastando com ele um terço dos anjos. Em meio aquela escuridão rajadas de fogo
cruzavam o horizonte indefinido das almas humanas, a queimar, a arder em suas
paixões mundanas.
-Senhor! Senhor. Piedade para as almas humanas.
O altar católico ruiu. A imagem de Cristo chorou sangue
diante da profanação que aquele padre orquestrou contra e com Juliana.
-Sua pele é tão macia. Cheirosa.
-Shiuu. Quero que prove da hóstia consagrada.
Ela não pode resistir. Desde há muito estava apaixonada.
***
O pastor Mário retirou o paletó e vestiu-se para um passeio:
o seu destino era uma casa de prostituição, onde reinavam a bebida e o sexo
livre. Tudo pago com o dinheiro do senhor. Lá ele encontrou um dirigente
espírita, um pai de santo e um rabino. Todos bebendo daquela taça de vinho,
feito de sangue humano... Bebiam o seu dinheiro, as suas esperanças, a sua fé.
-E o que você diz pros que te escutam na casa espírita? Perguntou
o rabino.
-Fora da caridade não há salvação.
-E eles acreditam nisso? Questionou o pai de santo.
-E por conta de que não acreditariam? Eu sou um poço de
moralidade e de bondade.
E se os fiéis de todas as religiões pudessem vê-los. Ovelhas,
ovelhas perdidas que agora sois acreditai mais em Deus e nos seus profetas do
que nos homens que representam as religiões pois Jesus disse que haveria falsos profetas e
que nem todos que dizem: “Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus.”
O dirigente espírita chamou o pai de santo, o pastor e o
rabino para que confraternizassem.
-E a que vamos brindar disse o rabino?
-A fé humana. Disse o pai de santo.
-A credulidade humana. Sentenciou o pastor. Este foi
aplaudido por um padre, ainda de batina que adentrava o prostíbulo e por todos
os demais chefes religiosos que ali se achavam.
“Jesus lhes propôs outra parábola: O reino dos céus é
semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas enquanto os
homens dormiam, veio um inimigo dele, semeou joio no meio do trigo e
retirou-se. Porém quando a erva cresceu e deu fruto, então apareceu também o
joio. Chegando os servos do dono do campo, disseram-lhe: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? pois
donde vem o joio? Respondeu-lhes: Homem inimigo é quem fez isso. Os servos
continuaram: Queres, então, que vamos arrancá-lo? Não, respondeu ele, para que
não suceda que, tirando o joio, arranqueis juntamente com ele também o trigo.
Deixai crescer ambos juntos até a ceifa; e no tempo da ceifa direi aos
ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio e atai-o em feixes para o queimar, mas recolhei
o trigo no meu celeiro.” (Mateus 13:24-30)
Muito bem ponderada e com o traço singular de suas cenas instigantes =D gostei muito amiga Cecil!
ResponderExcluir