sexta-feira, 5 de julho de 2013

Zuza


(Imagem retirada do blog: Fazendo a nossa festa colorir)

-Filó, cadê o Zuza?
-Deve está lá fora brincando.
-O céu tá todo armado. Acho que vai chover. A voz era rouca como se cada palavra tivesse saído com muito esforço das entranhas daquele homem. Roberto era considerado entre os seus um bom pai de família; nunca havia deixado faltar nada para a mulher ou para os filhos: Zuza e Raquel. Em verdade ele era mesmo um bom pai e nutria verdadeira adoração pelo Zuza, via naquele garoto a continuação de si mesmo, uma maneira de perpetuar-se através do tempo, faria dele um grande homem: fiel a seus deveres e compromissos. Além de pai e esposo Roberto era um brasileiro fanático pela pátria de chuteiras, destes que já não há.
-Zuza, oh Zuza! Entre meu filho. Você não tá vendo que vai chover?
-Já vou mãe. Pera mais um pouco.
-Entra agora.
-Mas mãe o jogo tá...
-Nem mais nem meio mais Zuza. Dê tchau aos seus colegas e entre logo. O jogo pode ficar pra outra hora.
-Poxa mãe! Logo hoje que eu ia passar o Zinho na artilharia do time?
Filó fazia-se de surda. Que negócio é esse de artilheiro de time? Filho seu tem é que estudar, por a cara no livro: ser um grande homem.
-E aí filhão? Como foi o jogo?
A partir daí foi um converseiro sem fim sobre a pelada daquele dia, ou sobre o baba como se fala aqui na Bahia. Mas antes de baianos eram brasileiros, adoravam futebol, aliás: os homens da casa gostavam, as mulheres preferiam a novela.
-Roberto, deixa o menino em paz. Para de encher a cabeça dele com isso de ser jogador de futebol, você é um alienado. Não se vive de futebol.
-Como não se vive? Neymar, Fred, Rivaldo e outros e outros mais por aí vivem de que se não é de futebol?
-Estou falando de vida normal.
-E que há de anormal nisso?
-Nosso filho tem é que estudar, ele precisa é se mirar mais no exemplo da irmã. Já viu como a Raquel é estudiosa? Vai ser veterinária, ela já te disse isso? Não né? Você nem olha pra ela. Vive pro Zuza e pra esse seu sonho idiota de fazer dele um jogador.
-Isso não é verdade. Sou um bom pai e você sabe disso.Só que a Raquel não precisa de mim como o Zuza.
-Deixa eu adivinhar! Ele precisa dos conselhos de um jogador de futebol frustrado que nem você? Sabe qual é o teu problema? Você queria ter nascido um Roberto Dinamite, mas fazer o quê? Ele nasceu antes de você, paciência meu bem. Disse Filó irônica enquanto batia no ombro do esposo.
-Quanta bobagem!
A discussão ia longe. Havia ultrapassado o jornal. Já estava na novela das 9 e nada. Até que o Zuza aproximou-se e disse:
-Sabe pai? Não quero mais ser jogador de futebol. Quero fazer novela que nem aquele ator. Ser protagonista ao lado de uma atriz bonita que nem aquela, olha lá.
Roberto estava decepcionado com o Zuza. Filó porém exultava. Havia vencido o marido.



3 comentários:

  1. Eu fui o Zuza.Sonhava em ser jogador de futebol,depois em beijar mulher bonita na tv.Hoje,desenho e escrevo livros e sobrevivo de outras atividades,por enquanto. Acho que a qualquer momento, o sucesso poderá sorrir para mim. caso não aconteça-estarei feliz por ter resistido e ter dedicado parte de minha vida aos desenhos e a escrever.Foda-se tudo. É um orgasmo fazer um desenho e escrever um conto,uma poesia,um livro. Fodam-se todos,foda-se tudo.


    LG

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  2. Todos nos tivemos um pouco de Zuza e um pouco de influência de nossos queridos pais como Filo e Roberto e somos parte de seus sonhos e de seu caráter. Gostei. Continue escrevendo!!!

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  3. Muito boa a sua colocação ceci, quanto aos dias atuais em que muitas vezes nós (filhos) somos o produto dos sonhos de nossos pais e isto pode acabar trazendo uma decepção enorme futuramente em nossas vidas por percebemos que no fim, nunca fizemos algo que queríamos, conheço pessoas como o tal Zuza que infelizmente tem pais que querem decidir cada passo da sua vida. Espero que alguns que leiam seu conto acabem criando uma pontinha de vontade própria na hora de escolher seu futuro.

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