Essa manhã houve
um grave acidente aqui na rua. Começava a narrativa o Gabriel, morador ilustre
daquela cidade; o jornalista estava atento a cada palavra do homem, aquilo era
uma situação muito peculiar.
-Pois, então senhor...O que o senhor disse que faz mesmo?
-Sou jornalista. Faço
perguntas pra colocar na reportagem, quero contar pras pessoas o que aconteceu.
-Mas isso eu
posso fazer. E melhor que o senhor, eu vi tudo, todo o ocorrido.
-Então “tá”
certo, farei uma reportagem em áudio e vídeo, melhor do que só escrever a
matéria.
Improvisou a
filmadora que tinha no carro. Seria sem o câmera mesmo, fariam o trabalho, ele
e o "seu" Gabriel. Levariam para o mundo a grande noticia.
O velhinho estava contente.
Iria ficar ainda mais presente na história daquelas pessoas. O filho dos
fundadores daquela cidade definitivamente marcaria seu nome na memória popular,
”sem falar a contribuição para o futuro”... E foi pensando em tudo aquilo, com
os olhos luzindo de contentamento e espanto diante do equipamento do jornalista o senhor Gabriel ouviu:
-O senhor está
pronto seu Gabriel?
O velhinho
sorriu, sem dentes, olhos marejados pelo que iam fazer e disse:
-Pronto pra fazer
história meu filho. Pra fazer história.
Nildo se aprumou
todo, ficou bem sério e começou:
-Estamos aqui na
cidade de Pirituba do norte divisa do nada com lugar algum, onde aconteceu
"um acidente" fantástico, sobre isso o senhor Gabriel Oliveira Ramos
que está aqui ao meu lado falará um pouco melhor. Seu Gabriel o senhor poderia
contar pro Brasil todo o que houve por aqui?
-Claro, “nós não
já tinha” combinado que eu ia contar?
-Sim, seu
Gabriel. O Jornalista riu diante da sinceridade do outro.
-Então, pessoal o
que sucedeu foi o seguinte. Como todo mundo deve saber Pirituba do Norte é uma
cidade bem longe da capital do progresso, mas o caso foi que resolveram
asfaltar a estrada principal. Foi uma felicidade só.
-O senhor poderia
encurtar a história? Nosso tempo no ar é curto.
-O senhor quer
que eu conte a história ou não?
Nildo, o
jornalista, fez sinal pra que o homem continuasse a história.
-Como eu ia
dizendo minha gente... O pessoal "tava" muito feliz com o asfalto... Mas
no primeiro carro que passou em alta velocidade aconteceu um acidente horrível.
Da metade da estrada pra lá, disse isso apontando pro local depois da passagem
do carro, a cidade se elevou toda parecendo uma montanha. A terra lá tá
escorregadia, o povo não pode descer pra cá, nem quer ficar lá
.
.
Nildo apontou a
câmera para o local do "acidente".
-É algo
surpreende e de proporções assustadoras o que aconteceu aqui, uma cidade quase
toda sair do lugar. O que a população acha que pode ter sido a causa seu
Gabriel? O movimento das placas tectônicas?
-Olhe o senhor me
respeite. Sou um pai de família, nasci e me criei nessa cidade fundada por meus
pais, não tenho nada a ver com “essas tal” de placa tectônicas não.
-Se acalme seu
Gabriel. Estamos no ar.
-Que ar coisa
nenhuma. No ar estão eles lá, olhe lá em cima no "arto", na montanha
que aquele asfalto vagabundo formou.