quarta-feira, 9 de maio de 2012

"E no Meio do Caminho Havia..."


Essa manhã houve um grave acidente aqui na rua. Começava a narrativa o Gabriel, morador ilustre daquela cidade; o jornalista estava atento a cada palavra do homem, aquilo era uma situação muito peculiar.

-Pois, então senhor...O que o senhor disse que faz mesmo?

-Sou jornalista. Faço perguntas pra colocar na reportagem, quero contar pras pessoas o que aconteceu.

-Mas isso eu posso fazer. E melhor que o senhor, eu vi tudo, todo o ocorrido.

-Então “tá” certo, farei uma reportagem em áudio e vídeo, melhor do que só escrever a matéria.

Improvisou a filmadora que tinha no carro. Seria sem o câmera mesmo, fariam o trabalho, ele e o "seu" Gabriel. Levariam para o mundo a grande noticia.

O velhinho estava contente. Iria ficar ainda mais presente na história daquelas pessoas. O filho dos fundadores daquela cidade definitivamente marcaria seu nome na memória popular, ”sem falar a contribuição para o futuro”... E foi pensando em tudo aquilo, com os olhos luzindo de contentamento e espanto diante do equipamento do jornalista o senhor Gabriel ouviu:

-O senhor está pronto seu Gabriel?

O velhinho sorriu, sem dentes, olhos marejados pelo que iam fazer e disse:
-Pronto pra fazer história meu filho. Pra fazer história.

Nildo se aprumou todo, ficou bem sério e começou:

-Estamos aqui na cidade de Pirituba do norte divisa do nada com lugar algum, onde aconteceu "um acidente" fantástico, sobre isso o senhor Gabriel Oliveira Ramos que está aqui ao meu lado falará um pouco melhor. Seu Gabriel o senhor poderia contar pro Brasil todo o que houve por aqui?

-Claro, “nós não já tinha” combinado que eu ia contar?

-Sim, seu Gabriel. O Jornalista riu diante da sinceridade do outro.

-Então, pessoal o que sucedeu foi o seguinte. Como todo mundo deve saber Pirituba do Norte é uma cidade bem longe da capital do progresso, mas o caso foi que resolveram asfaltar a estrada principal. Foi uma felicidade só.

-O senhor poderia encurtar a história? Nosso tempo no ar é curto.

-O senhor quer que eu conte a história ou não?

Nildo, o jornalista, fez sinal pra que o homem continuasse a história.

-Como eu ia dizendo minha gente... O pessoal "tava" muito feliz com o asfalto... Mas no primeiro carro que passou em alta velocidade aconteceu um acidente horrível. Da metade da estrada pra lá, disse isso apontando pro local depois da passagem do carro, a cidade se elevou toda parecendo uma montanha. A terra lá tá escorregadia, o povo não pode descer pra cá, nem quer ficar lá
.
Nildo apontou a câmera para o local do "acidente".
-É algo surpreende e de proporções assustadoras o que aconteceu aqui, uma cidade quase toda sair do lugar. O que a população acha que pode ter sido a causa seu Gabriel? O movimento das placas tectônicas?

-Olhe o senhor me respeite. Sou um pai de família, nasci e me criei nessa cidade fundada por meus pais, não tenho nada a ver com “essas tal” de placa tectônicas não.

-Se acalme seu Gabriel. Estamos no ar.

-Que ar coisa nenhuma. No ar estão eles lá, olhe lá em cima no "arto", na montanha que aquele asfalto vagabundo formou.