Parado diante da caixa de correios tentava memorizar o próprio cep...Tomou coragem e saiu.Números repetidos incessantemente na mente,um grande medo de perdê-los.Num canto seguro da estrada,esgueirou-se por entre os ramos duma árvore desconhecida,sacou o celular e discou.Do outro lado da linha uma voz sonolenta:
-Aaalô.Atendendo a ligação.
-Aqui está o que me pediu: 4456 785
-O cep?
-Isso mesmo do jeito que o senhor pediu...Agora pode ir a uma agência e endereçar a carta pra mim?
-O que diz a carta?
-O senhor não leu...Percebo que não leu...
-Olha rapaz...Foi interrompido pela outra voz ao telefone.
-Lembra da primeira vez que te liguei e o por quê?
-Você disse ter encontrado meu número na lista telefônica.
-Isso!Precisava de alguém pra enviar o que te pedi.
-O que até hoje me intriga é que como entre tantos nomes você escolheu logo o meu.
-Temos o mesmo sobrenome,poderíamos ser parentes,isso pesou a seu favor.
-Tudo bem só falta o seu endereço.
-Rua dos Mártires nº6,Ilha do meio.
-Pra quem irá mandar a carta?
Aquele movimento seria decisivo.Enviar cartas era algo muito caro,por isso decidiu pedir ajuda a alguém,e justo quando precisavam enviar não conseguia dizer o nome do remetente.
-Não sabe pra quem enviar,não é?
-Não.
-Um tipo de carta como a sua não é comum.Dizendo melhor...A maioria das pessoas sabe pra quem escreveu a carta,mas você não parece fazer parte do grupo.
O outro baixou a cabeça.Encolheu os ombros como se pudesse ser visto pelo interlocutor.Com a voz ainda fraca,indecisa,retrucou:
-Envie pra mim mesmo.
-Como assim?
-Preciso do meu perdão.Tenho estado muito aflito.Quem sabe lendo minha confissão eu não me absolva?
-Não seria mais fácil escrever e apenas ler?
-Faça o seguinte:leia,faça suas anotações junto as minhas queixas contra mim e ponha no endereço que te dei.
Sozinho o interlocutor ficou pensativo...Lia,relia a carta e não encontrava palavras a dizer a um homem como aquele,cada palavra lida era um golpe desferido nele também.
"Amigo,matei seu pai...E agora o que faço?"
domingo, 30 de outubro de 2011
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Quem vai ler?
Que bagunça! A chave caindo da mesinha, o lápis... Sim, mas
onde deixei o lápis? Como escrever isto? Recorrerei ao computador! Pronto estou
salvo.
-Mano você poderia me dar licença... Preciso escrever algo
importante.
Ele não me ouviu, continuou naquele joguinho idiota. Arranquei
a tomada do estabilizador e pifei a máquina. Agora nem eu nem ele.
-Justo quando que eu estava passando de fase! Sei não, tu só
tem caraminhola na cabeça, fica escrevendo essas sandices, quem vai ler?
-Você que não é. Aposto que nem ler direito sabe.
Saiu cuspindo fogo. E agora estava sem lápis ou computador;
ideias martelando na mente, prontas pra serem escritas, gritavam;
-Vocês podem calar um pouco a boca?
Elas não respondiam as minhas indagações, ficavam com o
mesmo disco arranhado, o mesmo principio, meio e fim de um conto que pelo visto
não seria escrito. Fiquei ali cismando na madrugada fria de junho...Como por
minhas palavras em ação? Estavam agitadas, irritadas e eu com cada vez mais
sono.
-Mano! Usa o gravador...
Parecia uma boa ideia.
Gravador em punho, as palavras entalaram na garganta,
impedidas por algum gênio ruim.
-E agora? Seria seu fim antes mesmo do principio? Seria meu
primeiro conto no blog.
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