domingo, 30 de outubro de 2011

Ligação Parte I

Parado diante da caixa de correios tentava memorizar o próprio cep...Tomou coragem e saiu.Números repetidos incessantemente na mente,um grande medo de perdê-los.Num canto seguro da estrada,esgueirou-se por entre os ramos duma árvore desconhecida,sacou o celular e discou.Do outro lado da linha uma voz sonolenta:

-Aaalô.Atendendo a ligação.

-Aqui está o que me pediu: 4456 785

-O cep?

-Isso mesmo do jeito que o senhor pediu...Agora pode ir a uma agência e endereçar a carta pra mim?

-O que diz a carta?

-O senhor não leu...Percebo que não leu...

-Olha rapaz...Foi interrompido pela outra voz ao telefone.

-Lembra da primeira vez que te liguei e o por quê?

-Você disse ter encontrado meu número na lista telefônica.

-Isso!Precisava de alguém pra enviar o que te pedi.

-O que até hoje me intriga é que como entre tantos nomes você escolheu logo o meu.

-Temos o mesmo sobrenome,poderíamos ser parentes,isso pesou a seu favor.

-Tudo bem só falta o seu endereço.

-Rua dos Mártires nº6,Ilha do meio.

-Pra quem irá mandar a carta?

Aquele movimento seria decisivo.Enviar cartas era algo muito caro,por isso decidiu pedir ajuda a alguém,e justo quando precisavam enviar não conseguia dizer o nome do remetente.

-Não sabe pra quem enviar,não é?

-Não.

-Um tipo de carta como a sua não é comum.Dizendo melhor...A maioria das pessoas sabe pra quem escreveu a carta,mas você não parece fazer parte do grupo.

O outro baixou a cabeça.Encolheu os ombros como se pudesse ser visto pelo interlocutor.Com a voz ainda fraca,indecisa,retrucou:

-Envie pra mim mesmo.

-Como assim?

-Preciso do meu perdão.Tenho estado muito aflito.Quem sabe lendo minha confissão eu não me absolva?

-Não seria mais fácil escrever e apenas ler?

-Faça o seguinte:leia,faça suas anotações junto as minhas queixas contra mim e ponha no endereço que te dei.

Sozinho o interlocutor ficou pensativo...Lia,relia a carta e não encontrava palavras a dizer a um homem como aquele,cada palavra lida era um golpe desferido nele também.

"Amigo,matei seu pai...E agora o que faço?"

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Quem vai ler?


Que bagunça! A chave caindo da mesinha, o lápis... Sim, mas onde deixei o lápis? Como escrever isto? Recorrerei ao computador! Pronto estou salvo.

-Mano você poderia me dar licença... Preciso escrever algo importante.

Ele não me ouviu, continuou naquele joguinho idiota. Arranquei a tomada do estabilizador e pifei a máquina. Agora nem eu nem ele.

-Justo quando que eu estava passando de fase! Sei não, tu só tem caraminhola na cabeça, fica escrevendo essas sandices, quem vai ler?

-Você que não é. Aposto que nem ler direito sabe.

Saiu cuspindo fogo. E agora estava sem lápis ou computador; ideias martelando na mente, prontas pra serem escritas, gritavam;

-Vocês podem calar um pouco a boca?

Elas não respondiam as minhas indagações, ficavam com o mesmo disco arranhado, o mesmo principio, meio e fim de um conto que pelo visto não seria escrito. Fiquei ali cismando na madrugada fria de junho...Como por minhas palavras em ação? Estavam agitadas, irritadas e eu com cada vez mais sono.

-Mano! Usa o gravador...

Parecia uma boa ideia.

Gravador em punho, as palavras entalaram na garganta, impedidas por algum gênio ruim.

-E agora? Seria seu fim antes mesmo do principio? Seria meu primeiro conto no blog.