Juliana estava de joelhos aos pés do altar. Orava. De sua
parte também compenetrado, porém em questões mundanas o padre a olhava. Aquela
mulher era uma bela ovelha: tão entregue, absorta, completamente apaixonada
pelas questões do céu. Os cabelos caíam-lhe abundantemente pelos ombros
cobertos, ela era todo recato: físico e espiritual. Seus lábios carnudos, cheios
de amor... Eram um convite.
-Está no horário de sua confissão. Vamos filha?
Não muito longe dali ouvia-se:
-Aleluia senhor. Deus seja louvado e para sempre glorificado.
Em nome do senhor.
-Amém. Disseram outras ovelhas. Estas evangélicas.
Após o culto e coleta das ofertas da noite. O pastor
fechou-se em seus aposentos particulares contando as somas. Separando apenas
uma ninharia para as obras da igreja. Os pobres... Pra que os pobres mesmo? Ah,
par dar o óbolo da viúva, que dentro de sua imensa pobreza ainda assim reuniu
condições para ajudar o seu próximo. Oh, pobre viúva! Pobres homens e mulheres
que ao invés de encontrarem um pastor de almas encontraram um grande banqueiro.
O céu crispou-se de nuvens negras, Lúcifer caiu dos céus
arrastando com ele um terço dos anjos. Em meio aquela escuridão rajadas de fogo
cruzavam o horizonte indefinido das almas humanas, a queimar, a arder em suas
paixões mundanas.
-Senhor! Senhor. Piedade para as almas humanas.
O altar católico ruiu. A imagem de Cristo chorou sangue
diante da profanação que aquele padre orquestrou contra e com Juliana.
-Sua pele é tão macia. Cheirosa.
-O senhor não deveria fazer isso. É contra as leis de Deus e
da igreja.