domingo, 28 de agosto de 2011

Adeus!!

A morte transfigurou e empalideceu seu rosto. As linhas suaves tornaram-se graves e carrancudas como uma carranca. Estava assustado e não conseguia sofrer, no entanto diante de seu caixão era quem mais aparentava sofrimento, quem mais chorava... As lágrimas caiam aos borbotões numa vicissitude fria e asquerosa, as pessoas se acercavam de mim, tinham pena, prestavam solidariedade, os mais puros sentimentos...
Aos poucos me vi diante de sua lápide, sozinho; estávamos a sós como eu tanto gostava de estar com ela, já não fazia sentido. Fui embora.
Minha casa estava uma pretoria só, o vestuário era horroroso, um fingimento de dar dó; às vezes sentia como se todos nós estivéssemos fazendo parte de uma orquestra ensaiada de forma perfeita a enganar uns aos outros,eles também não sofriam, eu era o único a perceber isso. Nenhum deles pôde perceber a minha falta de sofrimento, não havia afetação, era um ator perfeito.
Contudo e contraditoriamente ao que vos possa parecer, mesmo sem sofrer de verdade,era eu quem mais sofria,sofria por não sofrer, por ver em mim uma frieza que condenei minha vida inteira; gostaria que as lágrimas fossem verdadeiras, talvez por isso o fingimento fosse tão genuíno, era um desejo real sofrer por ela que me deu tantas alegrias, tantos momentos bons, ora de paz ora de desassossego por que o amor é mesmo assim feito de paz e tormentos, há quem possa dizer que isso é paixão e que aos poucos irá morrer. Ela morreu, os meus sentimentos permanecem, hoje volto a seu túmulo e mais uma vez contemplo a face da morte diante de mim, já não é mais a pedra mortuária que se cerra sobre seu corpo. Não saberia dizer como fiz aquilo: arranquei minha própria alma e deixei ali pra que ficasse com ela... Remorsos das falsas lágrimas derramadas... Tão verdadeiras em sua falsidade, e em seu desejo de sofrimento... Não me pergunte mais nada, não saberia responder.Falta-me a alma...Agora sou somente corpo.

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