Admiravam a beleza da ampulheta. Do tempo que escorria ali, indo embora
a cada segundo, a cada milésimo. Era manhã nascente, o Sol em todo seu
esplendor mostrava seus raios fulgurantes, dourados, qual rica coroa de cabelos
cor de ouro. Os primeiros raios tímidos temiam afugentar a quem esperava, a
quem esperava com ardor milenar; mas a ânsia de tê-la consigo era
demasiadamente grande pra que se calasse, ali do céu podia vê-la, a Lua; Ela
dormia qual água calma de rio, serena, descuidada de si, de sua beleza e
volúpia. Tentou chamá-la, foi em vão. Estava surda, seus clamores eram inaudíveis.
Taiana em seu desespero cutucou a irmã que observava do lado
diametralmente oposto. O Sol em sua grande fúria e orgulho imenso, resolvera
vingar-se dos humanos, mandou um calor abrasador à Terra, pra que queimasse
tudo que havia, qualquer sentimento que nos irmanasse.
Verônica, a irmã mais moça, não menos assustada que a outra, espreitava
uma cena... O tempo corria depressa entre seus dedos...O Rei das Alvoradas
morria diante dela, pra que a Rainha da Noite pudesse ondear seus cabelos
prateados pelos ares, através das estrelas ávidas por seus beijos. Como era
bela! Em meio a constelações sem fim, ela reinava, comandava tudo com sua doçura
e afabilidade; estava triste, saudosa, este sentimento foi tomando-a por
completo, tornando-a cada vez mais cheia, exuberante, diáfana; ver-se ali
diante do universo inteiro de estrelas sem a estrela Master, inundou-a de
intensa melancolia, depressão profunda, seus olhos encheram-se de lágrimas, e
chorou, chorou o mais belo pranto... Deus vendo isso teve pena. Olhou-a
compassivo, estendeu as mãos em concha e aparou as lágrimas, uma a uma,
juntou-as no seu seio divino e paternal... Tirou dali a estrela Dalva; filha do
sofrimento e do amor.
Admirando a beleza de seu amor Ela, cansada da vigília da véspera,
estende-se no leito, não sem antes ousar estender os braços pra Ele, e tocá-lo
com a ponta dos dedos.Era sempre em vão.
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