sábado, 5 de novembro de 2011

Arsênico com Amor

Casaram ainda muito jovens.Prometeram diante de um emissário de Deus que aquela união seria eterna.A cerimônia foi muito bonita,muitos convidados...Roupas elegantes,na festa comida farta,nos dias seguintes as coisas não mudaram;ambos atenciosos um para com o outro.Era primavera.

Moravam numa casa confortável,não eram ricos,não tinham empregados;dividiam as tarefas domésticas.Aos poucos estavam descobrindo-se.No príncipio das descobertas Antônia percebeu que o marido,bom,como direi isso?Direi da forma que ela gostaria que eu dissesse então...."Roncava que nem um porco", e mais impressionante era não ter percebido isso antes,por que só agora?Melhor não dar tanta importância a um fato como esse.Lúcio por sua vez começou a achar a esposa um tanto quanto desleixada,não tomava banho com a mesma frequência de outrora,já não se vestia com o esmero dos primeiros tempos; de qualquer forma era de se estranhar...Em pleno verão alguém tomar menos banho que o normal...Mas havia amor entre eles...Devia haver,do contrário por conta de que casariam tão cedo?Tantas pessoas pra conhecer,um mundo inteiro pra desvendar...Escolheram um ao outro.

-O café está frio.

Olhou pra ele com uma pontinha de raiva,deformando os lábios finos e delicados;naquela altura eles pareciam uma cobra ensaiando o bote.Preferiu abortar.

Quem era aquela mulher?Tão hostil,venenosa.Pensou ele vendo a cena a seguir:

Os lábios de serpente puseram-se arqueados diante dele,preparados pra inocular o veneno cruel...Morreria?

-Não temos empregada.Somos somente eu e você.Não gostou?Prepare outro.

Antônia encostou-se na pia,endireitou as mangas da camisa.O frio estava chegando,aos poucos, mas estava;naquela manhã retirou as roupas do armário,lavou,passou,estariam sem mofo pra quando o inverno chegasse...Pra dali um mês ou dois.Já era possível ouvir e ver seus chamados.

Os dias de felicidade comum eram cada vez mais raros.A chuva caia grossa no telhado.O vento entrava até por debaixo da porta.O marido deitado na cama lia o conto: "O Homem da Bolha",a esposa furiosa pela pouca atenção dos últimos meses,arranca-lhe o texto das mãos,puxou também os cobertores e disse:

-Não quero nada seu em minha casa.Há meses aguento seu ronco,sua falta de tempo e sobra de comodismo.

-Você não se enxerga?Olhe-se num espelho.Quem era e quem é você agora?Uma imunda que mal se depila,banho então...Melhor eu me calar,acho que o odor do ambiente fala mais do que qualquer palavra minha.

-Acabou.

-E,só agora Antônia que você notou isso?

-Não,eu notei isso da primeira vez que te trai ainda na lua de mel.

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