Olhos fechados, perigo imenso, solto na rua o
cão ladrava. Os passantes apavorados, esquivos, xingavam. Era um coisa ruim.
Comia dedos, devorava almas. Estava doente. A baba escorria abundantemente ao
canto da boca, escancarada, ofegante, cheia de dentes ferozes ou inofensivos. Deitou-se
num canteiro de cactos, espinhosos como ele. Estava insone ,ferido, longe de
casa.
O frio era imenso. As gotas de orvalho caiam
em seu corpo franzino, delicado. Um contraste perfeito com sua alardeada
agressividade.
-Bambino! Bambino!
As notas familiares trouxeram-lhe paz... Em
minutos estaria em casa. Caminha quente. Parecia humano... Tantos mimos... As
cobertas macias, comida agradável, bons donos, fiéis e cordatos. Olhou pra eles,
um olhar difuso... Achegou-se até a janela. A chuva continuava e cães como ele
estariam lá fora. Como ele não, ele tivera mais sorte. Tinha um lar. Aos cães
abandonados ele volveu seus olhos lúcidos que ao encontrarem aqueles embotados
pelas maldades do mundo, verteram lágrimas de dor, uma ainda maior do que a que
sofrera na rua. A todo animal, a toda criança abandonada... Pede-se apenas LAR.
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