domingo, 20 de novembro de 2011

Teorias da Conspiração



Estava atrasada. Cinco minutos, mas estava. Naquela manhã havia acordado bem cedo, nenhum incidente exceto a demora dentro do transporte público, uma vergonha; uma hora de seu bairro até o centro. Aquele automóvel estava em petição de miséria, uma porta só, janelas com ventilação apenas na parte superior, os veículos eram em número insuficiente pra atender a demanda populacional da cidade. Desceu do ônibus lotado com dificuldade. Era esperada com ansiedade por alguém. O centro estava cheio de gente, era véspera do feriado de dia dos pais, tentava em vão atravessar a avenida mais movimentada da cidade num dia como aquele.
E foram várias tentativas. Agora vai. Pensou ela, quando foi quase atropelada por uma bicicleta, eram mais de 30 mil naquele centro urbano, e estavam todas ali, as motos também. Parecia uma confraternização de veículos.
Impaciente roía as unhas. Sem ter o que fazer senão esperar o amenizar do trânsito ficou a olhar a vitrine da loja mais próxima:
-Que coisa é aquela ali? Apontou espantada.
-A imagem do caos.
As pessoas, animalizadas pela fome, policia em greve, saqueavam um supermercado.
-Não sabia que a policia estava em greve. Comentou com uma senhora ao lado que como ela assistia atônita aquela cena dantesca.
-Moça, você não sabe é de nada... Os jornais, os meios de comunicação em geral estão suprimindo as informações, passando "coordenadas erradas".
-Como assim?
-Você não vê? Essa história de comércio abeto até mais tarde em véspera de feriado, é pra omitir a greve da policia, veja se alguém sabia disso? Se alguém comentou? Eu sabia. Vim aqui conferir a tragédia, meu esposo é policial e me confidenciou tudo. Estão todos armando contra nós. Todos os que possuem poder, os pequenos, os grandes, só de poder que eles precisam, e só do poder se servem pra nos manipular... Isso tudo aqui é pra nos por uns contra os outros.
Estava tonta com aquilo. Os neurônios fervilhavam.
A mulher continuou:
-Hoje pela manhã ainda cedo, os agentes da prefeitura, os fiscais e guardas municipais invadiram as favelas, as casas, atearam fogo em tudo. Por isso essa confusão toda aqui.
Clara afastou-se daquela criatura. Não poderia ser verdade. Esfregou bem os olhos cansados daquela multidão toda e apenas viu dentro da loja pessoas comprando, outras vendendo. Não era o caos. Não ainda.
Do outro lado da avenida ele esperava. Foram tantas as palavras daquela senhora que nem lembrava mais dele, porém Cristiano estava ali, houvesse ou não uma teoria da conspiração, ele ali estava... O homem de sobrancelhas grossas, arqueadas, bem feitas, uma escultura sem termo, agastado pela demorava dela, ainda assim esperava. Atravessou a rua.
Juntos, ela e o homem foram embora, não sei pra onde, sei apenas que fugiram dos conspiradores.



Um comentário:

  1. Conspiração, caos, strees, nóia, paranóia, bipolar ... ou simplesmente, um dia comum.

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